Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo
Descrição de chapéu Ayrton Senna

O arrependimento de ter torcido contra Ayrton Senna

Queria contrariar papai, fã ardoroso de F-1 e, especialmente, do tricampeão

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Este humilde escriba teve a sorte e o privilégio de acompanhar a carreira de Ayrton Senna na F-1 na íntegra, pela TV. Este mesmo rancoroso e tolo escriba torceu contra Ayrton Senna durante boa parte de sua brilhante carreira.

Réu confesso e profundamente arrependido.

Veja bem, querido leitor, querida leitora, não é que eu não gostava de Senna ou ficava triste com suas vitórias. Não tinha como não admirá-lo. Mas sempre dei uma de smurf zangado. Tudo por conta de uma rebeldia familiar. Queria contrariar papai, fã ardoroso de F-1 e, especialmente, de Senna.

Explicarei melhor esse terrível caso de família.

Cresci nos selvagens anos 80 e já acompanhava a F-1, com papai, bem antes de Madonna aparecer "Like a Virgin".

Em 1981, Nelson Piquet foi campeão da temporada, que tinha apenas 15 corridas, bem menos que a fartura de hoje em dia. Só o fato de um brasileiro vencer uma prova já era celebrado como feito olímpico —Keke Rosberg foi campeão em 1982 com uma vitória.

Nesse cenário, confesso (hoje um pouco envergonhado) que Nelson Piquet foi o meu primeiro grande herói esportivo fora do futebol.

Então surge Ayrton Senna, em 1984, com uma equipe de fim de grid, a Toleman. Na hora, adorei Senna —mas como um coadjuvante de Piquet. Vibrei loucamente com a célebre corrida na chuva em Mônaco, quando Alain Prost praticamente obrigou a direção de prova a encerrar o GP só para não ser ultrapassado pelo novato brasileiro —a arrogância de Prost, aliás, custou-lhe o título.

Quando Senna passou a correr na Lotus e conquistar poles e vitórias, papai imediatamente debandou para o time Senna. Meu coração pré-adolescente não entendia que podia torcer para os dois.

Tudo bem, Senna batia recordes na pista, começava a mostrar que seria o rei das poles, mas Piquet foi tricampeão em 1987, brigando inclusive com a equipe, que preferia o inglês Nigel Mansell.

Comecei a discutir também na escola. Por que todo mundo preferia Senna? Piquet era tão cerebral (sim, ele parecia usar corretamente o cérebro naqueles tempos). Senna, para este rancoroso escriba, era só um pé pesado.

Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet durante treino do GP de Estoril (Portugal), em 1986 - AFP

Depois de 1988, aconteceu a inversão. Senna, agora com a McLaren, era o protagonista. Piquet, na antiga Lotus de Senna, passou a ser o coadjuvante.

E aí, no auge dos meus 15 anos, incorporei o tal smurf zangado. Se Senna ganhava apertado, "deu sorte no pit". Se batia recorde da pista, "ah, mas com esse carro…". Se deixava o companheiro de equipe vendo poeira, "não precisava ser tão exibido".

E, em 1991, Senna alcançou o mesmo tricampeonato de Piquet, para o meu despeito.

Cheguei a chamar Senna de mercenário para papai em 1993, quando o brasileiro estava insatisfeito com a falta de competitividade em relação aos carros da Williams e ameaçava abandonar a categoria. "Só sabe correr com carro bom?" Era só para atacar os dois de uma vez só.

Como acontecia em todas as manhãs de corrida desde os meus 9, 10 anos, estava na frente da TV quando Senna entrou naquela maldita curva, há 30 anos.

Fiquei triste, mas em silêncio. Achava que não tinha o direito de sofrer. Também não falei muito com papai sobre o tema. Deixávamos Galvão, Reginaldo e cia. falarem. Pela distância do tubo da TV, concordávamos com a cabeça.

Hoje só posso dizer que me arrependo de não ter curtido Senna, ou papai, como deveria. Teriam sido momentos mais divertidos. E, tardiamente, consigo chamar Senna de ídolo.

Round 4 de 38
Degolado o primeiro estrangeiro do Brasileiro. O argentino-vascaíno Ramón Díaz não sobreviveu aos 4 a 0 do Criciúma, em casa. Restam ainda 17 sobreviventes desde o round 1: Brasileiros 10 x 7 Estrangeiros. E o lanterna Cuiabá, que já estreou no torneio com interino, pode contratar um professor a qualquer momento, dizem que deste semestre não passa.

Ramon Diaz, ex-treinador do Vasco - Sérgio Moraes/Reuters

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